domingo, 21 de junho de 2015

Coisas que se veem e coisas que não se veem

Olhar é diferente de ver. Quando olhamos para alguma coisa, o nosso olhar não deve ser de relance, mas devemos observar atentamente o que se vê, para captarmos detalhes que poderão nos revelar vários significados da coisa vista. Ver é ponderar sobre o que se está vendo. Para ver é preciso deduzir o sentido da visão daquilo que se vê.

A seguir vamos analisar o texto Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa” (João 4:35). O texto aqui nos leva a refletir que não basta olhar mas, é preciso perceber o que há de fato na imagem refletida em nossos olhos.

Veja a contradição do que se vê: Eles (os discípulos) dizem que ainda há quatro meses para a colheita Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? (João 4:35a). Jesus diz que o campo está pronto “Eis que eu vos digo: [...] vede as terras, que já estão brancas para a ceifa” (João 4:35).

O que aprendemos aqui? A diferença do que dizemos está no que vemos. Note que, eles (os discípulos) diziam uma coisa pelo que eles viam. Jesus dizia outra coisa pelo que ele via. Aqui devemos aprender como devemos ver as coisas tanto materiais quanto espirituais. Quando Jesus diz Levantai os vossos olhos” (João 4:35c), ele está nos ensinando que o nosso olhar não deve ficar apenas na visão material, ou seja, que nossa visão não deve permanecer no sentido horizontal, mas também, no sentido vertical, nas coisas espirituais.

Paralelamente também aprendemos que devemos tomar muito cuidado quando vamos dizer alguma coisa em cima da percepção de algo que vemos. Veja que Jesus viu que o campo estava pronto para colheita e os discípulos perceberam que ainda havia um espaço de tempo, quatro meses, para a colheita.

O que Jesus estava fazendo é que ele estava falando de algo que ele via. Os discípulos estavam falando da mesma coisa que Jesus via, só que de forma diferente. Assim, devemos ver como Jesus vê para que possamos dizer da mesma forma que ele diz. Se nós vemos da mesma forma que Jesus vê, logo, nós vamos dizer da mesma forma que Jesus diz.

Reveja o que Jesus disse: “Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa” (João 4:35). Se eu vejo o que Jesus vê direi o que ele diz. E o que ele disse? Ele disse que o campo estava pronto para a colheita. Portanto, se eu ajo como Jesus age cumprirei a sua vontade que é iniciar imediatamente a colheita.

Jesus tinha como parâmetro o Pai. Hoje, nós temos que ter como parâmetro o Senhor Jesus. Veja o que Jesus disse quando ele estava aqui na terra entre nós: "Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer ao Pai, porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente (João 5:19). Resumindo, Jesus disse: eu vejo o meu pai fazer as coisas e faço o que vejo o meu Pai fazer.

Conclusão: Se eu não aprendo a ver como Jesus vê, tampouco vou fazer o que Jesus faz. Assim, tenho que aprender a ver, como ele vê, para poder dizer o que ele diz. Jesus disse que o campo estava pronto para ceifa, o que os discípulos disseram era que ainda faltavam quatro meses para a ceifa. Eles não viram o campo como Jesus viu.

Então, qual deve ser o meu desejo? O meu desejo deve ser: Eu vou ver como Jesus vê para que eu possa dizer como Jesus diz; se assim eu agir também vou fazer o que ele deseja que eu faça. O que Jesus deseja que eu faça é: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). Note que o campo está pronto e que a colheita é o resultado da semeadura passada. No mundo espiritual é assim: ao mesmo tempo que semeamos, também colheremos.


Celso Novaes

quarta-feira, 5 de março de 2014

Davi, um exemplo a ser seguido.

Davi tinha o hábito de se dirigir a Deus. Esse hábito era constante e suas palavras tinham como base descrever os momentos de sua vida, por isso, ele coordenava a sua mente “Dá ouvidos às minhas palavras, ó SENHOR, atende à minha meditação” (Salmos 5:1). Note que Davi pedia a Deus para dar ouvidos as suas palavras, isso significava que antes de se dirigir a Deus ele se preparava para este momento. Ele agia e clamava a Deus e essa atitude não era de qualquer forma “atende à minha meditação” (Salmos 5:1b). Meditar exige trabalho pois, quando se medita é preciso colocar a mente em ação.

Davi era incisivo em suas petições “Atende a vós do meu clamor” (Salmos 5:2a). Desta forma, após meditar nos seus problemas ele era conciso. Ele sabia que só Deus poderia resolver os seus problemas e nas suas palavras podemos notar que ele era um homem de intimidade com Deus “Rei meu e Deus meu” (Salmos 5:2b). Ele também tinha um relacionamento de exclusividade “pois a ti orarei” (Salmos 5:2c).

Davi também era um homem de compromisso com Deus “Pela manhã, ouvirás a minha voz, ó SENHOR; pela manhã, me apresentarei a ti, e vigiarei” (Salmos 5.3). Veja que há uma repetição da frase “pela manhã”, indicando que além de Davi ser constante em sua comunicação com Deus, ele era assíduo e metódico. Não importava a sua situação de momento, se era boa ou ruim, mas, toda manhã ele se comunicava com Deus.

Davi confiava em Deus. Ele tinha a convicção de que Deus ouvia suas palavras ou a sua voz e ficava atento à sua resposta “e vigiarei” (Salmos 5:3c). Aqui nós aprendemos que a resposta de Deus nem sempre vem no momento que desejamos. Por isso, é preciso ficar atento e esperar a sua resposta para que possamos ouvi-la.

Celso Novaes

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O irmão do filho pródigo

No evangelho segundo Lucas, no capítulo 15, versículos 11 a 32, está registrado a parábola do filho pródigo. Jesus não identificou esse homem na parábola “Um certo homem tinha dois filhos” (Lucas 15:11), portanto, não sabemos quem era esse homem e nem mesmo a sua origem.

Geralmente, em nossas igrejas, dificilmente ouve-se comentar sobre as qualidades do filho mais velho, o que se ouve, quando se ouve, são os seus defeitos. É interessante salientar que tanto o filho mais moço quanto o filho mais velho receberam a herança do pai “E ele repartiu por eles a fazenda” (Lucas 15:12b). Isso demonstra que o pai dispensou o mesmo tratamento para os dois filhos.

Meus comentários terão como foco o filho mais velho. Inicialmente, ressaltarei suas qualidades para finalmente tecer alguns comentários sobre os seus defeitos.

O filho mais velho era zeloso e responsável. Enquanto seu irmão desperdiçou a sua herança, a herança do filho mais velho estava intacta e prosperando pois, ele era um trabalhador e procurava sempre estar no campo.

Quando o filho mais novo retornou para o lar, o filho mais velho estava trabalhando “E o seu filho mais velho estava no campo” (Lucas 15:25a), aqui está a evidência de que o filho mais velho não estava ocioso, ele estava trabalhando. Era um filho responsável e dedicado no cuidado da sua herança e da propriedade do pai.

Outras qualidades que podemos destacar era que o filho mais velho era assíduo, frequente, dedicado e estava sempre presente “Eis que te sirvo a tantos anos [...]” (Lucas 15:29b). Ele também era fiel e obediente, não era um transgressor do mandamento ou das regras do seu lar, pois, ele afirma ao pai que nunca transgrediu um mandamento dele: “sem nunca transgredir o teu mandamento(Lucas 15:29c).

O próprio pai confirma que o filho mais velho sempre estava presente, não era um filho que vivia de forma dissoluta. Não tinha relacionamentos com pessoas mundanas “Filho, tu sempre estás comigo” (Lucas 15:31b). Desta forma, podemos afirmar que o filho mais velho não estava contaminado com o mundo de sua época onde imperava a corrupção, a prostituição e a ociosidade.

Como vimos até aqui, podemos dizer que o filho mais velho era um excelente filho. No entanto, quando ele retorna do campo e ouve a música e o murmúrio da festa em prol do retorno de seu irmão, ele fica surpreso sem saber o motivo de tal festividade “e, quando veio e chegou perto da casa, ouviu a música e as danças” (Lucas 15:25b).

Assim, ao se aproximar da casa, interroga um dos servos: “E, chamando um dos servos, perguntou-lhe o que era aquilo” (Lucas 15:26). Inteirado dos acontecimentos indignou-se e não quis participar da festa preparada pelo pai em comemoração ao retorno de seu irmão “Mas ele se indignou e não queria entrar” (Lucas 15:28a).

Evidentemente que o filho mais velho tinha muitas qualidades boas pois, era um excelente filho. No entanto, ele tinha um grave defeito: não tinha amor no coração e não reconheceu o seu próprio irmão. Embora fosse um filho trabalhador e obediente ao pai, ele teve a capacidade de criticar as atitudes do pai com relação ao seu irmão que retornava ao lar.

O pai amava os dois filhos da mesma forma e desejava que o filho mais velho comemorasse com ele o retorno de seu irmão “E saindo o pai, instava com ele” (Lucas 15:28c). Na parábola está bem claro que o pai saiu para fora da casa e pediu com insistência que o filho mais velho entrasse.

Certamente que o pai ficou surpreso com tal atitude do filho mais velho, principalmente, quando ele procura justificar que nunca o havia desobedecido, que era um fiel cumpridor de suas obrigações e, mesmo assim, nunca recebeu um cabrito para se alegrar com seus amigos “Eis que te sirvo a tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos” (Lucas 15:29). Esta foi uma verdadeira afronta contra a benevolência do pai.

A indignação foi tão brutal que o irmão mais velho não teve a capacidade de reconhecer o seu próprio irmão. Indignado, afrontou o pai sem a menor consideração e disse: “Vindo, porém, este teu filho” (Lucas 16:30a). Note que o filho mais velho não conseguiu dizer: esse meu irmão. Para o pai os dois filhos sempre foram tratados de forma iguais “E ele repartiu por eles a fazenda” (Lucas 15:12c).

Apesar do filho mais velho ser dedicado e servir o pai, ele vivia como escravo e sua dedicação tinha como resultado motivação errada. A sua obediência não era livre e nem espontânea, porque, ele nunca soube o que é ser filho, tudo que fazia era motivado por obrigação. O relacionamento do filho mais velho com o pai não produzia o bem estar da alegria.

O filho mais velho além de negar o seu próprio irmão tem a capacidade de afrontar o pai acusando o irmão de ter vivido uma vida dissoluta e pecaminosa “[...] este teu filho, que desperdiçou a fazenda com as meretrizes” (Lucas 15:30). Assim, o filho mais velho toma uma posição terrível e perigosa pois, quem é que tem o papel de nos acusar frente ao Pai?

O filho mais velho não se alegra com o perdão do pai em relação ao seu irmão porque em sua mente doentia quem erra não tem chance de restauração. O relacionamento que ele tinha com o pai não era um relacionamento solidário. O maior desejo do pai era que os dois irmãos vivessem em sua presença e compartilhassem com ele das alegrias da vida. Nota que a busca do pai não se estendia apenas ao filho que estava perdido e foi achado, mas a sua busca também se dirigia ao filho mais velho.

O filho mais velho vivia na presença do pai, mas tinha uma vida solitária e sem alegria “Filho, tu sempre estas comigo” (Lucas 15:31a). Tinha o privilégio de ter um pai rico, mas vivia na miséria, pois o pai lhe declarou: “todas as minhas coisas são tuas(Lucas 15:31). Veja que ele não se sentia dono nem mesmo do que era seu, uma vez que ele também já tinha recebido parte da sua herança. Era filho de um pai rico, mas não tinha a capacidade de banquetear com os amigos pois, vivia como escravo. Sua vida limitava-se a servir ao pai apenas por obrigação.

O filho mais velho estava numa posição muito melhor em relação ao seu irmão. Ele não desperdiçou a sua herança e permaneceu na presença do pai. No entanto, ele tinha um defeito gravíssimo: ele se justificava por suas obrigações de servir ao pai. Não tinha o amor perdoador do pai “Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado” (Lucas 15:32).

O filho mais velho, como vimos, possuía muitas qualidades boas. Certamente ele era um excelente filho, tanto que o pai desejava compartilhar com ele a alegria do retorno de seu irmão. Infelizmente o rancor cauterizou o seu entendimento e ele não teve pena do estado deplorável em que seu irmão chegou. A situação de seu irmão foi tão lastimável que ele teve o desejo de se alimentar da comida dos porcos que ele cuidava “E desejava encher o estômago com as bolotas que os porcos comiam” (Lucas 15:16a). Nota que o texto não afirma que ele se alimentou da comida dos porcos.

Por fim, ao analisar esta parábola não sabemos com certeza se o filho mais velho entrou na casa para celebrar a volta do seu irmão ou se a dureza do seu coração fez com que ele permanecesse isolado tanto do pai quanto do irmão.

Por fim cabe outra pergunta: Como odiar o irmão e amar o pai?

Celso Novaes

domingo, 30 de setembro de 2012

Deus atende os nossos pedidos?

Evidentemente que sim. Há vários versículos na Bíblia que nos asseguram que todas as nossas petições serão atendidas por Deus. Destacarei um versículo específico que nos encoraja a persistir em nossos pedidos “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Mateus 7:7). Partindo deste versículo, podemos deduzir que o próprio Jesus nos encoraja a sermos persistentes e constantes em nossos pedidos até que eles sejam atendidos.

Infelizmente muitos deixam de ter os seus pedidos atendidos por Deus porque desistem de persistirem até o fim. É natural desejarmos que nossos pedidos sejam atendidos prontamente. Não temos paciência em esperar e pensando que Deus não ouviu os nossos pedidos acabamos desistindo.

Deus sabe o momento certo de satisfazer os nossos desejos. Quem tem um relacionamento íntimo com Deus sabe que jamais será decepcionado “Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre” (Mateus 7:8). Como vê, devemos ser persistente e nunca perder a esperança. Mesmo que os dias, os meses e os anos passem devemos manter acesa a esperança de sermos atendidos.

Há um propósito quando Deus demora em atender os nossos pedidos. Um deles é que ele deseja que nós entendamos que somos dependentes dele. Nós não temos vida própria, precisamos de Jesus para vivermos “Eu sou a videira verdadeira, e meu pai é o lavrador” (João 15.1). Aqui está claro que para vivermos devemos ter uma vida de dependência com Deus.

Por quê desistir de nossos pedidos quando somos totalmente dependentes de Deus? Se o galho se separar da figueira certamente ele morrerá. Mas se o galho permanecer ligado ao tronco da figueira ele passará a se confundir com ele. Isso é possível porque há uma harmonia neste relacionamento e tudo que o galho necessita o tronco fornece na medida certa. Ao olharmos para uma figueira podemos ver os frutos e as folhas verdes cheias de vida. Assim somos nós quando estamos harmoniosamente ligados a Cristo. Naturalmente devemos ser imitadores de Cristo.

O tronco da figueira realiza seus desejos através dos galhos pois, são nos galhos que as folhas e os frutos florescem. Assim somos nós em relação a Jesus. A partir do momento que nos tornamos íntimos passamos a conhecer quais são as nossas verdadeiras necessidades. Tudo que não for do nosso alcance Deus nos ajudará a conquistar para que possamos produzir bons frutos. Se estivermos ligados na figueira verdadeira os desejos de Deus passam também a ser os nossos. Dentro desta harmonia, os nossos pedidos jamais serão contra a vontade de Deus.

Nós somos os galhos e Jesus é o nosso tronco. Só temos vida porque estamos ligados a Jesus. Por isso, semelhantemente aos galhos da figueira só conseguiremos produzir bons frutos quando nosso relacionamento for harmonioso com a figueira verdadeira. Quem não produz bons frutos não pode estar ligado a Jesus “Toda a vara em mim que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (João 15:2). Aqui está o alerta para examinarmos a nós mesmos.

Assim como o tronco da figueira fornece tudo que é necessário ao galho para que ele floresça e produza frutos, assim é o nosso Deus, ele suprirá todas as nossas necessidades. Devido a nossa intimidade com Deus, todos os nossos pedidos serão de acordo com sua vontade, pois através deste relacionamento, intuitivamente pediremos somente aquilo que Deus deseja para nós.

Quem é de Deus sabe que ele é atencioso e não lhe deixa faltar nada “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará” (Salmos 23:1). Por isso, devemos pedir de forma correta e sermos gratos a Deus por tudo que ele nos tem proporcionado. Quando lemos que “nada me faltará”, isso significa que Deus satisfará todas as nossas necessidades e não necessariamente todos os nossos desejos.

Celso Novaes

domingo, 18 de março de 2012

A Mulher de Jó

Jó foi um homem real, ele viveu na terra de Uz e sua história inicia afirmando que ele era “homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desviava do mal (Jó 1:1). Em seguida, no versículo 8, o próprio Deus confirma que “ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desviava do mal” (Jó 1:8). Esta afirmação foi feita por Deus a Satanás que colocava em xeque a fidelidade de Jó, ou seja, Satanás ousadamente afirmava para Deus que a fidelidade de Jó estava alicerçada em sua situação privilegiada de homem rico.

Como sabemos, Deus permitiu que Satanás tocasse em tudo que Jó possuía “Disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está em teu poder; somente contra ele não estendas a mão. E Satanás saiu da presença do Senhor” (Jó 1:12).  Depois de Satanás tocar em tudo que Jó possuía e o mesmo não blasfemar contra Deus, Satanás mais uma vez tem a ousadia de afrontar Deus dizendo que se tocar nos ossos e na carne certamente ele não resistiria e blasfemaria. Diante de tal ousadia, Deus permite que Satanás tenha pleno poder sobre a vida de Jó, no entanto, Satanás não teve autorização para tocar em sua vida. “Disse o Senhor a Satanás: Eis que ele está em teu poder; mas poupa-lhe a vida” (Jó 2:6).

A partir da permissão de Deus, Satanás iniciou seu ataque veroz contra Jó. Jó era casado, tinha família constituída, tinha filhos e era muito próspero. Em todo o Livro de Jó não é citado o nome de sua fiel companheira. Nem mesmo em toda a Bíblia encontramos a informação de seu nome.

A história de Jó tem como ênfase o seu sofrimento, no entanto, não devemos esquecer do sofrimento de sua companheira. Evidentemente que Jó foi o alvo de Satanás, mas, tanto ele quanto sua esposa perderam num só dia servos, bois, jumentas, ovelhas, camelos, filhos e filhas. Satanás impôs um ataque fulminante contra o casal.

A dor e o sofrimento não foi apenas de Jó mas, também, de sua fiel companheira, uma vez que ela também sentiu no profundo de sua alma o impacto dos ataques de Satanás. Com certeza ela teve um papel muito importante no cenário trágico vivido por seu esposo, apesar dela ter recebido apenas um só versículo em todos os 42 capítulos que compõem o Livro de Jó. “Então, sua mulher lhe disse: Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2.9).

Quando sua esposa lhe disse para amaldiçoar a Deus e morrer (Jó 2.9), Jó continuou sereno e repreendeu-a com carinho, dizendo: “falas  como qualquer doida” (Jó 2.10a). Veja que Jó não chamou sua esposa de doida, mas sim, que ela falava com tal. Jó não presenciou insanidade em sua fiel companheira pois, esse não era o comportamento normal dela. Sua atitude foi em decorrência de circunstâncias anormais que ambos estavam vivendo.

Prosseguindo em sua repreensão ele conclui para sua esposa: “temos recebido o bem de Deus, e não receberíamos também o mal?” (Jó 2:10b). Por isso que no final deste mesmo versículo está escrito: “Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2:10).

Um fato curioso é que no capítulo 42, apenas os três amigos de Jó são repreendidos por Deus (Jó 42:7). Em todo o Livro de Jó não há indício de que Deus repreendeu de forma direta a sua fiel companheira. Mas, o que podemos constatar é que sua esposa foi seu grande apoio durante todo o seu sofrimento e provação. Observe que era ela que preparava o alimento que saciava a fome de Jó mantendo-o vivo fisicamente. Era ela que ajudava na higienização de seu corpo fétido e suportava o seu mau hálito.

Jó não tinha a companhia constante de seus irmãos mas, com certeza ele tinha a companhia de sua dedicada esposa. Com certeza ela sofria profundamente vendo a situação deprimente de seu marido. Talvez sua dor fosse muito maior por não ter condições de fazer algo para amenizar o sofrimento do seu fiel companheiro. A situação de Jó era trágica e insuportável “O meu hálito é intolerável à minha mulher, e pelo mau cheiro sou repugnante aos filhos de minha mãe” (Jó 19:17).

Assim, podemos constatar que sua esposa sofria intensamente. Talvez, ela sofria muito mais do que ele. Logo, diante de tal situação ela certamente se desmoronou e como uma doida (ela não era e nunca foi doida), viu que a solução para o fim do sofrimento intenso do marido fosse a morte. Certamente que esta atitude foi um ato impensável. Diante do infortúnio que se agravava a cada dia, ela não suportou presenciar o definhamento gradual do esposo. O seu pedido foi num momento de indignação, desequilíbrio e insensatez. Com o tempo, o próprio Jó caiu em profunda depressão e não via nenhuma perspectiva de ter a vida restaurada “O meu espírito se vai consumindo, os meus dias se vão apagando, e só tenho perante mim a sepultura”(Jó 17:1).

Nem todos se comportam da mesma forma diante de uma tragédia. Talvez se Satanás tivesse desafiado a Deus sobre a integridade da mulher de Jó, Deus jamais teria permitido que ele estendesse sua mão sobre ela. Por outro lado, Deus permitiu que Satanás estendesse sua mão sobre Jó porque ele sabia que Jó suportaria toda e qualquer provação e jamais blasfemaria contra Deus.

Mesmo quando Jó amaldiçoa o dia do seu nascimento e se contende com Deus, ele não deixa de ser um homem fiel e temente a Deus. Mesmo quando ele lamenta a miséria em que caiu e se queixa do trato de Deus ele não peca contra Deus.

Jó era fiel a Deus e também a sua mulher “Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela?”(Jó 31:1). Nota-se que Jó era um homem integro e fiel também a sua esposa.

A mulher de Jó sofria de forma intensa porque não podia fazer nada para aliviar as dores do marido. Num momento de desepero ela desejou que a morte o separasse dela. Ela foi repreendida pelo esposo e continuou fiel a ele. Tanto que no final quando Deus restaura a prosperidade de Jó (Jó 42:10-13), lemos claramente que tudo que Jó perdeu, com relação aos bens materiais, Deus o restitui em dobro "e o Senhor deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra" (Jó 42:10b). Com relação aos filhos, lemos que Jó "(...) teve outros sete filhos e três filhas" (Jó 42:13). Note que o texto diz que Jó teve "outros sete filhos e três filhas" e não o dobro dos mesmos. Por dedução, podemos dizer que os primeiros dez filhos não foram perdidos mas, Deus os tomou para si.

Em todo o Livro de Jó não encontramos indício de que Deus deu outra esposa para Jó, ou que o mesmo tenha escolhido uma outra. Certamente Jó continuiu com sua fiel companheira. Outra curiosidade é que Jó morreu “velho e farto de dias” (Jó 42:17). Por algum motivo, Deus não nos revela como morreu a mulher de Jó.

Celso Novaes