domingo, 18 de março de 2012

A Mulher de Jó

Jó foi um homem real, ele viveu na terra de Uz e sua história inicia afirmando que ele era “homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desviava do mal (Jó 1:1). Em seguida, no versículo 8, o próprio Deus confirma que “ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desviava do mal” (Jó 1:8). Esta afirmação foi feita por Deus a Satanás que colocava em xeque a fidelidade de Jó, ou seja, Satanás ousadamente afirmava para Deus que a fidelidade de Jó estava alicerçada em sua situação privilegiada de homem rico.

Como sabemos, Deus permitiu que Satanás tocasse em tudo que Jó possuía “Disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está em teu poder; somente contra ele não estendas a mão. E Satanás saiu da presença do Senhor” (Jó 1:12).  Depois de Satanás tocar em tudo que Jó possuía e o mesmo não blasfemar contra Deus, Satanás mais uma vez tem a ousadia de afrontar Deus dizendo que se tocar nos ossos e na carne certamente ele não resistiria e blasfemaria. Diante de tal ousadia, Deus permite que Satanás tenha pleno poder sobre a vida de Jó, no entanto, Satanás não teve autorização para tocar em sua vida. “Disse o Senhor a Satanás: Eis que ele está em teu poder; mas poupa-lhe a vida” (Jó 2:6).

A partir da permissão de Deus, Satanás iniciou seu ataque veroz contra Jó. Jó era casado, tinha família constituída, tinha filhos e era muito próspero. Em todo o Livro de Jó não é citado o nome de sua fiel companheira. Nem mesmo em toda a Bíblia encontramos a informação de seu nome.

A história de Jó tem como ênfase o seu sofrimento, no entanto, não devemos esquecer do sofrimento de sua companheira. Evidentemente que Jó foi o alvo de Satanás, mas, tanto ele quanto sua esposa perderam num só dia servos, bois, jumentas, ovelhas, camelos, filhos e filhas. Satanás impôs um ataque fulminante contra o casal.

A dor e o sofrimento não foi apenas de Jó mas, também, de sua fiel companheira, uma vez que ela também sentiu no profundo de sua alma o impacto dos ataques de Satanás. Com certeza ela teve um papel muito importante no cenário trágico vivido por seu esposo, apesar dela ter recebido apenas um só versículo em todos os 42 capítulos que compõem o Livro de Jó. “Então, sua mulher lhe disse: Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2.9).

Quando sua esposa lhe disse para amaldiçoar a Deus e morrer (Jó 2.9), Jó continuou sereno e repreendeu-a com carinho, dizendo: “falas  como qualquer doida” (Jó 2.10a). Veja que Jó não chamou sua esposa de doida, mas sim, que ela falava com tal. Jó não presenciou insanidade em sua fiel companheira pois, esse não era o comportamento normal dela. Sua atitude foi em decorrência de circunstâncias anormais que ambos estavam vivendo.

Prosseguindo em sua repreensão ele conclui para sua esposa: “temos recebido o bem de Deus, e não receberíamos também o mal?” (Jó 2:10b). Por isso que no final deste mesmo versículo está escrito: “Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2:10).

Um fato curioso é que no capítulo 42, apenas os três amigos de Jó são repreendidos por Deus (Jó 42:7). Em todo o Livro de Jó não há indício de que Deus repreendeu de forma direta a sua fiel companheira. Mas, o que podemos constatar é que sua esposa foi seu grande apoio durante todo o seu sofrimento e provação. Observe que era ela que preparava o alimento que saciava a fome de Jó mantendo-o vivo fisicamente. Era ela que ajudava na higienização de seu corpo fétido e suportava o seu mau hálito.

Jó não tinha a companhia constante de seus irmãos mas, com certeza ele tinha a companhia de sua dedicada esposa. Com certeza ela sofria profundamente vendo a situação deprimente de seu marido. Talvez sua dor fosse muito maior por não ter condições de fazer algo para amenizar o sofrimento do seu fiel companheiro. A situação de Jó era trágica e insuportável “O meu hálito é intolerável à minha mulher, e pelo mau cheiro sou repugnante aos filhos de minha mãe” (Jó 19:17).

Assim, podemos constatar que sua esposa sofria intensamente. Talvez, ela sofria muito mais do que ele. Logo, diante de tal situação ela certamente se desmoronou e como uma doida (ela não era e nunca foi doida), viu que a solução para o fim do sofrimento intenso do marido fosse a morte. Certamente que esta atitude foi um ato impensável. Diante do infortúnio que se agravava a cada dia, ela não suportou presenciar o definhamento gradual do esposo. O seu pedido foi num momento de indignação, desequilíbrio e insensatez. Com o tempo, o próprio Jó caiu em profunda depressão e não via nenhuma perspectiva de ter a vida restaurada “O meu espírito se vai consumindo, os meus dias se vão apagando, e só tenho perante mim a sepultura”(Jó 17:1).

Nem todos se comportam da mesma forma diante de uma tragédia. Talvez se Satanás tivesse desafiado a Deus sobre a integridade da mulher de Jó, Deus jamais teria permitido que ele estendesse sua mão sobre ela. Por outro lado, Deus permitiu que Satanás estendesse sua mão sobre Jó porque ele sabia que Jó suportaria toda e qualquer provação e jamais blasfemaria contra Deus.

Mesmo quando Jó amaldiçoa o dia do seu nascimento e se contende com Deus, ele não deixa de ser um homem fiel e temente a Deus. Mesmo quando ele lamenta a miséria em que caiu e se queixa do trato de Deus ele não peca contra Deus.

Jó era fiel a Deus e também a sua mulher “Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela?”(Jó 31:1). Nota-se que Jó era um homem integro e fiel também a sua esposa.

A mulher de Jó sofria de forma intensa porque não podia fazer nada para aliviar as dores do marido. Num momento de desepero ela desejou que a morte o separasse dela. Ela foi repreendida pelo esposo e continuou fiel a ele. Tanto que no final quando Deus restaura a prosperidade de Jó (Jó 42:10-13), lemos claramente que tudo que Jó perdeu, com relação aos bens materiais, Deus o restitui em dobro "e o Senhor deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra" (Jó 42:10b). Com relação aos filhos, lemos que Jó "(...) teve outros sete filhos e três filhas" (Jó 42:13). Note que o texto diz que Jó teve "outros sete filhos e três filhas" e não o dobro dos mesmos. Por dedução, podemos dizer que os primeiros dez filhos não foram perdidos mas, Deus os tomou para si.

Em todo o Livro de Jó não encontramos indício de que Deus deu outra esposa para Jó, ou que o mesmo tenha escolhido uma outra. Certamente Jó continuiu com sua fiel companheira. Outra curiosidade é que Jó morreu “velho e farto de dias” (Jó 42:17). Por algum motivo, Deus não nos revela como morreu a mulher de Jó.

Celso Novaes