No evangelho segundo
Lucas, no capítulo 15, versículos 11 a 32, está registrado a parábola do filho pródigo.
Jesus não identificou esse homem na parábola “Um certo homem tinha dois filhos” (Lucas 15:11), portanto, não sabemos quem era esse
homem e nem mesmo a sua origem.
Geralmente, em nossas igrejas, dificilmente ouve-se
comentar sobre as qualidades do filho mais velho, o que se ouve, quando se
ouve, são os seus defeitos. É interessante salientar que tanto o filho mais
moço quanto o filho mais velho receberam a herança do pai “E ele repartiu por eles a fazenda” (Lucas 15:12b). Isso demonstra que o pai dispensou
o mesmo tratamento para os dois filhos.
Meus comentários terão como foco o filho mais velho.
Inicialmente, ressaltarei suas qualidades para finalmente tecer alguns
comentários sobre os seus defeitos.
O filho mais velho era zeloso e responsável. Enquanto
seu irmão desperdiçou a sua herança, a herança do filho mais velho estava
intacta e prosperando pois, ele era um trabalhador e procurava sempre estar no
campo.
Quando o filho mais novo retornou para o lar, o filho
mais velho estava trabalhando “E o seu filho mais velho estava no campo” (Lucas 15:25a), aqui está a evidência de que o
filho mais velho não estava ocioso, ele estava trabalhando. Era um filho
responsável e dedicado no cuidado da sua herança e da propriedade do pai.
Outras qualidades que podemos destacar era que o filho
mais velho era assíduo, frequente, dedicado e estava sempre presente “Eis que te sirvo a
tantos anos [...]” (Lucas 15:29b).
Ele também era fiel e obediente, não era um transgressor do mandamento ou das
regras do seu lar, pois, ele afirma ao pai que nunca transgrediu um mandamento
dele: “sem nunca
transgredir o teu mandamento” (Lucas
15:29c).
O próprio pai confirma que o filho mais velho sempre
estava presente, não era um filho que vivia de forma dissoluta. Não tinha
relacionamentos com pessoas mundanas “Filho, tu sempre estás comigo” (Lucas 15:31b). Desta forma, podemos afirmar que o
filho mais velho não estava contaminado com o mundo de sua época onde imperava
a corrupção, a prostituição e a ociosidade.
Como vimos até aqui, podemos dizer que o filho mais
velho era um excelente filho. No entanto, quando ele retorna do campo e ouve a
música e o murmúrio da festa em prol do retorno de seu irmão, ele fica surpreso
sem saber o motivo de tal festividade “e, quando veio e chegou perto da casa, ouviu a música e as
danças” (Lucas 15:25b).
Assim, ao se aproximar da casa, interroga um dos
servos: “E, chamando
um dos servos, perguntou-lhe o que era aquilo” (Lucas 15:26). Inteirado dos acontecimentos
indignou-se e não quis participar da festa preparada pelo pai em comemoração ao
retorno de seu irmão “Mas ele se indignou e não queria entrar” (Lucas 15:28a).
Evidentemente que o filho mais velho tinha muitas
qualidades boas pois, era um excelente filho. No entanto, ele tinha um grave
defeito: não tinha amor no coração e não reconheceu o seu próprio irmão. Embora
fosse um filho trabalhador e obediente ao pai, ele teve a capacidade de
criticar as atitudes do pai com relação ao seu irmão que retornava ao lar.
O pai amava os dois filhos da mesma forma e desejava
que o filho mais velho comemorasse com ele o retorno de seu irmão “E saindo o pai,
instava com ele” (Lucas 15:28c).
Na parábola está bem claro que o pai saiu para fora da casa e pediu com
insistência que o filho mais velho entrasse.
Certamente que o pai ficou surpreso com tal atitude do
filho mais velho, principalmente, quando ele procura justificar que nunca o
havia desobedecido, que era um fiel cumpridor de suas obrigações e, mesmo
assim, nunca recebeu um cabrito para se alegrar com seus amigos “Eis que te sirvo a
tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um
cabrito para alegrar-me com os meus amigos” (Lucas
15:29). Esta foi uma verdadeira afronta contra a benevolência do pai.
A indignação foi tão brutal que o irmão mais velho não
teve a capacidade de reconhecer o seu próprio irmão. Indignado, afrontou o pai
sem a menor consideração e disse: “Vindo, porém, este teu filho” (Lucas 16:30a). Note que o filho mais velho não
conseguiu dizer: esse
meu irmão. Para o pai os dois filhos sempre foram tratados de
forma iguais “E
ele repartiu por eles a fazenda” (Lucas 15:12c).
Apesar do filho mais velho ser dedicado e servir o pai,
ele vivia como escravo e sua dedicação tinha como resultado motivação errada. A
sua obediência não era livre e nem espontânea, porque, ele nunca soube o que é
ser filho, tudo que fazia era motivado por obrigação. O relacionamento do filho
mais velho com o pai não produzia o bem estar da alegria.
O filho mais velho além de negar o seu próprio irmão
tem a capacidade de afrontar o pai acusando o irmão de ter vivido uma vida
dissoluta e pecaminosa “[...] este teu filho, que desperdiçou a fazenda com as
meretrizes” (Lucas 15:30). Assim, o filho mais velho toma uma
posição terrível e perigosa pois, quem é que tem o papel de nos acusar frente
ao Pai?
O filho mais velho não se alegra com o perdão do pai
em relação ao seu irmão porque em sua mente doentia quem erra não tem chance de
restauração. O relacionamento que ele tinha com o pai não era um relacionamento
solidário. O maior desejo do pai era que os dois irmãos vivessem em sua
presença e compartilhassem com ele das alegrias da vida. Nota que a busca do
pai não se estendia apenas ao filho que estava perdido e foi achado, mas a sua
busca também se dirigia ao filho mais velho.
O filho mais velho vivia na presença do pai, mas tinha
uma vida solitária e sem alegria “Filho, tu sempre estas comigo” (Lucas 15:31a).
Tinha o privilégio de ter um pai rico, mas vivia na miséria, pois o pai lhe
declarou: “todas
as minhas coisas são tuas” (Lucas 15:31). Veja que ele não se sentia
dono nem mesmo do que era seu, uma vez que ele também já tinha recebido parte
da sua herança. Era filho de um pai rico, mas não tinha a capacidade de
banquetear com os amigos pois, vivia como escravo. Sua vida limitava-se a
servir ao pai apenas por obrigação.
O filho mais velho estava numa posição muito melhor em
relação ao seu irmão. Ele não desperdiçou a sua herança e permaneceu na
presença do pai. No entanto, ele tinha um defeito gravíssimo: ele se
justificava por suas obrigações de servir ao pai. Não tinha o amor perdoador do
pai “Mas era
justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e
reviveu; tinha-se perdido e foi achado” (Lucas 15:32).
O filho mais velho, como vimos, possuía muitas
qualidades boas. Certamente ele era um excelente filho, tanto que o pai
desejava compartilhar com ele a alegria do retorno de seu irmão. Infelizmente o
rancor cauterizou o seu entendimento e ele não teve pena do estado deplorável
em que seu irmão chegou. A situação de seu irmão foi tão lastimável que ele
teve o desejo de se alimentar da comida dos porcos que ele cuidava “E desejava encher o
estômago com as bolotas que os porcos comiam” (Lucas 15:16a). Nota que o texto não afirma que ele se alimentou da
comida dos porcos.
Por fim, ao analisar esta parábola não sabemos com
certeza se o filho mais velho entrou na casa para celebrar a volta do seu irmão
ou se a dureza do seu coração fez com que ele permanecesse isolado tanto do pai
quanto do irmão.
Por fim cabe outra pergunta: Como odiar o irmão e amar
o pai?
Celso Novaes