segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Dízimo, um dever do cristão?


Muitos pastores citam Malaquias para declarar a obrigatoriedade de se contribuir com o dízimo e abertamente acusam os membros não contribuintes de ladrões “Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda” (Malaquias 3:8 e 9). Evidentemente que alguém estava roubando a Deus nos dízimos e nas ofertas. Esta afirmação é do próprio Deus. Mas, quem são esses ladrões?

No final do versículo 9, do capítulo 3 de Malaquias está escrito: “a nação toda”. Esta nação, com certeza não se refere ao Brasil, mas especificamente a nação de Israel, uma nação do Antigo Pacto que tinha por obrigatoriedade guardar toda a Lei Mosaica e, por consequência, contribuir com o dízimo.

Note que Malaquias era um profeta da lei e Jesus afirmou que a lei e os profetas duraram até João “Porque todos os Profetas e a Lei profetizaram até João” (Mateus 11:13). No entanto, isto não quer dizer que não devemos mais contribuir em nossas igrejas. Na dispensação da graça, devemos contribuir com alegria e com o valor que propormos em nossos corações.

Os pastores também citam as palavras que Jesus dirigiu aos fariseus para justificar o dever dos seus membros contribuírem com os dízimos. Mas, se prestarmos bem atenção ao texto bíblico podemos constatar que Jesus está tratando de assuntos da Lei e não de assuntos referentes ao Novo Pacto “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mateus 23:23). Quando Jesus disse: “fazer estas coisas, sem omitir aquelas” trata-se de assuntos da Lei e estes assuntos não fazem parte do Novo Pacto ou da dispensação da graça. Aqui Jesus se dirigiu para judeus que estavam sujeitos a Lei. O Novo Pacto só iniciou quando Jesus ressuscitou, portanto, tudo que Jesus disse foi dirigido exclusivamente para os fariseus e não para os cristãos de hoje.

Por outro lado, o Novo Testamento nos ensina de forma clara e objetiva: “não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Romanos 6:14b). A lei obriga e manda que todos os israelitas contribuam com os dízimos. O Novo Pacto é muito mais perfeito porque não nos obriga a nada, mas, nos convida a contribuir conforme o propósito do nosso coração.

O Velho Pacto já passou e hoje vivemos sob um Novo Pacto. “Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei.” (Gálatas 5:18).

Outro argumento que a maioria dos pastores utilizam para obrigar seus membros a contribuir com os dízimos é que o dízimo surgiu antes da Lei “Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo” (Gênesis 14:18 a 20). Assim, com base na leitura acima, concluem os pastores que o dízimo ainda hoje é um dever dos cristãos.

Uma curiosidade: a circuncisão e o dízimo surgiram antes da Lei. Com relação a circuncisão, basta lermos Gênesis 17:10-14 para confirmar esta informação. Desta forma, tanto o ato de dizimar quanto o ato de circuncidar faziam parte da Lei ou do Antigo Pacto. A Lei passou, a circuncisão também. E o dízimo?

Em Hebreus 7:1-10, há uma outra referência sobre o dízimo declarando que o mesmo é parte da Lei. Mais adiante, em Hebreus 7:18-19, lemos uma declaração importante que nos informa sobre a debilidade e a ineficácia da Lei. Temos também a informação da introdução de uma esperança superior pela qual podemos nos aproximar de Deus.

Quem confessa que Jesus é o seu salvador está livre de qualquer maldição. Quem crê no evangelho está livre da Lei e por extensão da maldição “Cristo nos resgatou da maldição da Lei” (Gálatas 3.13).

O fato de Abraão ter pago o dízimo antes da instituição da Lei dada a Moisés por Deus, não justifica a obrigatoriedade dos cristãos atuais serem dizimistas. Abraão deu o dízimo a Melquisedeque de despojos que ele conquistou na guerra, sendo que, naquela época era um costume e não uma instituição divina.

O dízimo se tornou uma instituição divina no Antigo Pacto sendo uma obrigação aos filhos de Israel. Assim, houve a necessidade do estabelecimento de uma orientação e finalidade para se contribuir com os dízimos.

Hoje, no Novo Pacto, não estamos obrigados a contribuir com o dízimo por ordenança. Também não estamos presos na alíquota de 10% (dez por cento) do nosso rendimento mensal, pois, “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria” (II Coríntios 9.7). Desta forma, nós temos a liberdade de contribuir para a manutenção de nossa igreja com aquilo que propormos em nossos corações.

Não vivemos mais sobre as ordenanças da Lei, no entanto, vivemos num Novo Pacto muito mais perfeito. Por isso, devemos ser generosos em contribuir para a obra de Deus, para a nossa igreja. Hoje, não somos mais constrangidos a dizimar mas, em Cristo somos levados a agir e contribuir com amor.

Hoje somos abençoados porque contribuímos voluntariamente e com sobriedade. Quem ama se preocupa com a manutenção da sua igreja, sendo que, dentro dessa manutenção, inclui as necessidades básicas da família do nosso pastor. Lembre-se que Jesus é o pastor dos pastores e são estes pastores que nos orientam espiritualmente a trilhar o caminho da salvação em Jesus Cristo.

Na dispensação da graça somos abençoados porque tudo que fazemos, fazemos como se fosse para nosso Deus “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” (Colossenses 3.23). Portanto, vamos honrar a Deus com as primícias do nosso trabalho, lembrando que o nosso trabalho já é uma benção de Deus, e assim, contribuir com regularidade para que nada falte em nossas igrejas é uma forma de agradecer a Deus pelas bençãos recebidas.

A lei implicava em sacrifício, a graça implica em amor, generosidade e desprendimento.

Celso Novaes