quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Zaqueu, rico e chefe dos publicanos

Zaqueu foi um homem que viveu na cidade de Jericó, era contemporâneo de Jesus, e sua história está narrada no Novo Testamento, em um texto escrito por Lucas no capítulo 19, versículos 1 a 10. Localizada no vale do Rio Jordão, a cidade de Jericó foi reconstruída pois, 1.400 anos antes, esta mesma cidade foi destruída por Deus através de Josué.

A história de Zaqueu narrada por Lucas inicia com Jesus em pleno exercício de seu ministério terreno “E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando” (Lucas 19.1). Como era de costume, onde Jesus chegava, uma grande multidão se aglomerava para vê-lo. Isso acontecia porque por onde Jesus passava milagres acontecia. Cegos enxergavam, pessoas deficientes começavam a andar, leprosos eram curados e até mortos eram ressuscitados.

Zaqueu era rico e chefe dos publicanos “E eis que havia ali um varão chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico” (Lucas 19.2). Com certeza Zaqueu não tinha preocupações financeiras, ele era rico. Era uma pessoa de grande responsabilidade e idônea, tanto que ele recebeu dos romanos um posto de alta relevância. Seu trabalho era de publicano e tinha um alto cargo entre eles pois era o chefe dos mesmos.

Na história narrada por Lucas, lemos que Zaqueu era uma pessoa de posses. Por outro lado, não podemos afirmar que ele era de origem humilde mas, pelo cargo que recebeu dos romanos podemos supor que ele era de uma família privilegiada em Jericó. No relato de Lucas não há indício de que Zaqueu ficou rico com o cargo de chefe dos publicanos, o que diz o texto é que ele “era rico(Lucas 19.2). Evidentemente que ele poderia se enriquecer ainda mais com um cargo de tamanha importância.

O cobrador de imposto na cidade de Jericó, como em qualquer outro lugar, era desprezado. Nos dias atuais, todas as pessoas envolvidas com o fisco podem não ser odiadas na mesma intensidade, mas, são pessoas que não são bem vindas para a grande maioria dos empresários atuais.

O povo judeu odiava os publicanos porque eles prestavam serviços aos romanos, ou seja, serviam as forças de ocupação, portanto, o povo era obrigado a viver sob o jugo de uma nação estrangeira tendo concidadãos seus prestando serviços para os seus dominadores.

No versículo 2 do capítulo 19 de Lucas, lemos: “E eis que havia ali um varão chamado Zaqueu”. Por que será que Lucas o chama de varão? Se eu creio que toda a Bíblia é inspirada por Deus, logo, há um significado profundo Zaqueu ser chamado de varão. A palavra varão na Bíblia não significa apenas que a pessoa era do sexo masculino. Varão significa homem íntegro, de respeito, que tem atitude correta, pessoa de convicções firmes, determinado. Por isso Zaqueu fez de tudo para ver Jesus “E procurou ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura” (Lucas 19.3).

Conforme podemos notar, Zaqueu era determinado, por isso, por um momento se juntou a multidão que se reunia para ver Jesus entrar na cidade. Impossibilitado de obter êxito, não desistiu “E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver, porque havia de passar por ali” (Lucas 19.4). O texto mostra que Zaqueu era um homem bem informado, sabia dos movimentos de Jesus, por isso, mais adiante subiu naquele sicômoro, assim, ao subir naquela árvore, Zaqueu superou todas as suas dificuldades para ter a chance de ver Jesus.

Portanto, Zaqueu suplantou todas as barreiras externas que o impediam de ver Jesus, tinha baixa estatura que diante de uma grande multidão de pessoas provavelmente não conseguiria atingir seu objetivo, por isso saiu correndo adiante e subiu numa árvore. Seu esforço foi recompensado quando Jesus olhou para cima e o chamou pelo seu nome “E quando Jesus chegou aquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa” (Lucas 19.5). Jesus é atencioso e vê Zaqueu como uma pessoa que tem identidade única. Jesus tratou Zaqueu como um indivíduo único diante daquela grande multidão de pessoas. Ele o chamou pelo seu nome. Jesus sabia quem era aquele homem.

Zaqueu não titubeou em atender ao pedido de Jesus “E, apressando-se, desceu, e recebeu-o com alegria” (Lucas 19.6). Zaqueu além de ver Jesus, recebeu-o em sua casa e teve a honra e a felicidade de hospedá-lo. No entanto, todos os que presenciavam aquele momento importante na vida de Zaqueu, começaram a murmurar “E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador” (Lucas 19.7).

O povo não tinha do que acusar Zaqueu, por isso, começaram a murmurar da atitude de Jesus “entrara para ser hóspede de um homem pecador” (Lucas 19.7). Assim, de forma covarde, o povo censurava em voz baixa, produzindo um murmúrio maledicente. O som da voz daquela multidão ecoava levemente como que compactuando segredos entre si.

Evidentemente que Jesus e Zaqueu perceberam as atitudes de reprovação do povo mas, tanto Jesus quanto Zaqueu procuraram valorizar aquele momento de encontro. Jesus recompensa qualquer pecador que procura vencer barreiras para encontrá-lo. Qualquer um pode ter atenção especial do Salvador, mesmo que a multidão murmurem entre si.

Zaqueu não tinha problemas de saúde e nem de finanças, mas ele tinha necessidade de desfrutar de uma vida espiritual de paz e esperança. Por isso, Zaqueu não deu importância à murmuração do povo. Outro dado importante é que Jesus se encontrava na cidade de Jericó onde havia muitos sacerdotes, assim, ele poderia ter escolhido a casa de algum sacerdote para se hospedar mas, hospedou-se na casa de um pecador.

Quando Jesus já estava no interior daquela casa, Zaqueu toma algumas atitudes diante de Jesus “E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado” (Lucas 19.8). Notamos que a atitude de Zaqueu foi espontânea e sincera e, assim, ele não precisou perguntar para Jesus: o que farei para ser salvo? Esta atitude é totalmente contrária ao do jovem rico que foi ao encontro de Jesus e perguntou: o que farei para ter a vida eterna? Então Jesus lhe deu uma resposta que soou amarga “E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me” (Mateus 19.16 e 21). No entanto, com relação a Zaqueu, notamos que ele teve uma real mudança de vida, uma vez que suas ações foi de espontaneidade. Por isso, as atitudes de Zaqueu foram aprovadas por Jesus “E disse-lhe Jesus: Hoje veio salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão” (Lucas 19.9).

Quando Zaqueu de forma espontânea resolve doar aos pobres a metade dos seus bens “eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens” (Lucas 19.8), podemos ver nesta atitude que não se trata de uma ação de arrependimento por ter adquirido seus bens de forma ilícita. Se analisarmos atentamente o texto, a expressão de Zaqueu foi de total desprendimento aos bens materiais. Quem tem o hábito de fazer alguma coisa a tendência é utilizar o tempo verbal na primeira pessoa do presente do indicativo “eu dou” (Lucas 19.8), em vez de vou dar ou começarei a dar.

Apesar de ser odiado pela população devido o seu cargo de alta importância para o governo romano, o texto nos dá uma idéia de que Zaqueu era atencioso com os pobres e sua vida não estava presa apenas a sua função de chefe dos publicanos, tanto que quando Jesus estava chegando a Jericó, lá estava ele no meio da multidão.

Zaqueu tomou uma decisão importante, ele foi de encontro ao Salvador. Ele lutou, enfrentou obstáculos, foi criticado, caluniado, mas, também, foi vitorioso. Qualquer pessoa pode ter um encontro com Jesus. Não importa os obstáculos, o que importa é que devemos ter convicção do que queremos, se enfrentarmos os obstáculos com certeza teremos um encontro maravilhoso com Jesus. Multidões poderão nos recriminar mas, o que importa, é que temos a certeza de que Jesus veio ao mundo para buscar e salvar os perdidos “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lucas 19.10).

Outro ponto importante da fala de Zaqueu está na conclusão do versículo 8 do capítulo 19 “se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado”, ou seja, aqui vemos que a palavra “se” significa uma probabilidade. Veja que a multidão murmuravam mas, não tinham provas contra Zaqueu de ter se enriquecido de forma ilícita. Sua riqueza tinha origem tanto que nenhum dos murmuradores se apresentou exigindo indenização. Assim, quando Zaqueu disse “se” não implica afirmar que ele era um defraudador ou um ladrão que usurpava o seu próprio povo. Se não houvesse sinceridade nas palavras de Zaqueu certamente haveria reprovação de Jesus.

Por outro lado, Zaqueu era um homem rico e conhecedor das Escrituras. Quando ele disse “se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado” (Lucas 19.8), era porque ele tinha a firme convicção de nunca ter roubado parte da coleta dos impostos arrecadados pelos seus comandados. Essa postura de Zaqueu indica que ele sabia da penalidade exigida do ladrão, ou seja, que a restituição poderia ser quadruplicada “Se alguém furtar boi ou ovelha, e o degolar ou vender, por um boi pagará cinco bois, e pela ovelha quatro ovelhas” (Êxodo 22.1).

O nome Zaqueu significa “puro” ou “inocente”. Ele foi um varão que sentiu a necessidade de ter um Salvador. Por isso, aceitou os ensinamentos de Jesus e permaneceu firme em suas convicções, convertendo-se num modelo real de vida. Zaqueu foi um homem íntegro, merecedor da confiança do governo romano. Não há nada Bíblia que desabone a sua conduta.

Celso Novaes